Nino Denani

Algum tempo atrás eu tive uma conversa bem interessante no instagram @ninodenani. A gente falava a respeito dos vícios, vídeo que postei ha agum tempo e, no meio do caminho, comecei a constatar algumas coisas  interessantes.  A primeira delas é aquela de sempre: por conta das respostas que recebia pra pergunta “você tem algum vício?”, muita gente respondeu coisas que não faziam sentido e, por conta disso, perguntei se essas pessoas sabiam o que era vício e, adivinhe: não sabiam. Estavam falando que tinham uma coisa que eles não sabiam o que era.

A outra coisa interessante foi a respeito do tema oculto do vídeo mesmo. A ideia de ter falado sobre vícios foi para ajudar quem tenha, mas também para dizer que certas coisas que fazemos podem ser feitas somente por vício. Então começamos a adentrar cada vez mais por essa conversa até que usei certas coisas típicas de um rito para ilustrar e é aí que o poder das velas entra em questão.

A pergunta era: por que vc acha essencial o uso de velas em um rito e, se vc realmente pensa assim; você já tentou fazer um rito sem velas pra ver o que dava? Pois é…

Um pouco de parafina, um pavio e fogo. 

Desde que me entendo por gente, a vela é algo que trás para nós certos mistérios. Não há um rito, seja ele religioso, seja mágicko, individual ou coletivo, que não use velas. Fazemos elas de diversas cores e formatos, com aromas, com pavios de madeira ou algodão. 

O fato é que elas sempre estão ai. Existem até livros publicados da “magia das velas”, existem atos que são feitos somente com a vela ou que ela é o objeto principal de um ato mágicko.

Mas… vc já parou pra se perguntar o pq de tudo isso?

Em artigo de Maria Helena Martins para o site SAPO, 

A vela representa o princípio criador: a luz do sol, que dá vida a tudo, e favorece a transmutação das energias, isto é, transforma a energia dos pedidos na concretização dos mesmos, dando-lhes força e calor.” 

A minha pergunta para esse tipo de coisa é sempre a mesma: como?

A vela representar alguma coisa me faz total sentido, assim como qualquer outra coisa pode representar qualquer outra coisa, mas e o resto da explicação: Favorece a transmutação de energias, transforma a energia dos pedidos na concretização dos mesmos… e a conclusão é ainda mais maravilhosa: “dando-lhes força e poder”. Como uma vela dá força e poder a um pedido?

O site Wemystic, no qual eu sou colaborador, inclusive, diz em um artigo sem assinatura: 

De acordo com o pedido ou tipo de conexão pretendida, é possível escolher uma vela com determinadas características — coloridas ou que queimem por mais de um dia, por exemplo. Dessa forma, a cada vez que acender uma vela, ela terá seu próprio significado e finalidade.

De onde isso veio?

Bom, antes da gente continuar aqui, eu preciso deixar uma coisa clara: não estou falando isso, trazendo essas questões, para ridicularizar ou menosprezar quem as costuma usar como explicação para as coisas. Estou trazendo só para tentarmos ver o que está acontecendo aqui, fechou? Não é um tipo de ataque ou coisa assim, eu mesmo adoro usar velas pras coisas.

Enfim…

Claro, estou pegando a vela aqui como símbolo de toda uma forma de ver o mundo que nós temos e seria bastante interessante olharmos com um pouco mais de calma para compreender o que está rolando, o que está acontecendo e, muitas vezes, não para negar a coisa em si, mas para potencializá-la.

Esta parte é importante e, acredito, poucos de vocês, visitantes, compreenderam isso ainda: Mecanismos de crença, as formas que temos de interação com o mundo usando pequenas ou grandes formas de crenças, constroem quem nós somos e ditam a forma como vamos interagir com a realidade. Este mecanismo é tão importante a ponto de fazer com que toda uma civilização acredite em vários tipos de manifestações só porque alguém disse alguma coisa que correspondia ou nos dava uma explicação melhor sobre o que nós mesmos já acreditávamos ser verdade. O que é o mito de Jesus hoje em dia senão exatamente essa situação de mecanismo de crença, você já se perguntou?

Quem foi Jesus? Um judeu, nascido em Belém, fugido pro Egito pra escapar da sentença de morte de Herodes que cresceu na Galiléia e, por algum motivo, algumas pessoas começaram a entender que ele era o messias prometido nas escrituras judaicas, naquele tempo, hebraicas. O que confirmou isso tudo? A fé de um povo ignorante (e não ache isso ruim: comparado com o que sabemos hoje, o mundo todo era ignorante há 2000 anos) porque quando não sabemos, precisamos acreditar. Alguém contou uma história que parecia ser verdade e uma galera resolveu acreditar. Só teve uma pessoa que quis mais evidências da história: Tomé e muitos acham que isso só aconteceu porque quem deu a notícia da ressurreição de cristo, foi Maria Madalena, ou seja, uma mulher.

Hoje em dia, 2000 anos depois e uma série de melhorias feitas em nosso processo de aprendizagem formal, ainda há quem acredite nisso e acredite tanto, que pessoas morrem por conta disso e… por que?

Por que precisamos acreditar em uma história que, de alguma forma, nos traz conforto.

Em um estudo publicado pelo psicólogo britânico John Bowlby tenta explicar pra gente o que está acontecendo na questão da nossa relação com esse deus, ou seja, ele tenta fazer uma exploração em nossas mentes para responder a pergunta: por que criamos deus?

Eu já contei aqui a respeito do nosso mecanismo hiperativo de detecção de agência, que faz com que a gente acabe criando uma espécie de “ser” para cada coisa que vemos se movendo e não conseguimos explicar o por que e Bowlby traz pra gente uma explicação bem parecida: A religião (e logo vcs vão entender onde quero chegar) seria um produto resultante de adaptações sociais e cognitivas que, de alguma forma, ajudaram nosso desenvolvimento. Quando a gente se comunica e interage uns com os outros, acabamos por criar laços mais fortes com alguns indivíduos em detrimento dos outros, certo?

Essa espécie de “apego” que criamos na infância, por exemplo, com nossos pais, continuam na vida adulta e é direcionada a amigos, animais e até objetos. De acordo com Bowlby, esse apego é transferido também, a uma divindade.

Veja bem: os nossos relacionamentos dependem da capacidade de prever como outras pessoas vão se comportar em determinadas situações e, para que isso aconteça, a gente usa uma habilidade chamada de desacoplamento cognitivo, que vai nos permitir imaginar como alguém vai reagir a determinadas situações. Essa capacidade já é adquirida desde a infância quando a gente começa a brincar de “faz de conta” e é aqui que começamos a imaginar uma divindade, prever suas qualidades e atitudes e, assim, criamos uma conexão com ela.

Depois disso, quando vamos crescendo, o comportamento coletivo como a gente vê nos rituais acaba por nos agradar, por nos dar sentimento de pertencimento, de coletividade, tudo o que nos é importante, e então sentimos a vontade de repetir a experiência.

MAS E A VELA?

A vela, para este texto, é um símbolo de tudo aquilo que temos como superstição. A criação de uma divindade como dito no capítulo anterior tem várias explicações e elas convergem para uma necessidade que temos de controlar todos os aspectos de nossas vidas. Nós vamos tão longe nisso que acabamos por tentar controlar, prevendo as ações, até mesmo do movimento dos animais e plantas e esse controle nos dá uma espécie de gatilho em situações importantes da vida. Nós queremos que as coisas deem certo, mas não temos controle sobre elas e, com isso, inventamos coisas que são aceitas pelo nosso cérebro por conta do viés da confirmação. Agora… uma outra coisa entra em ação aqui: nossa necessidade por explicação nas coisas, algo que costumamos chamar de “limite da ignorância”.

O limite da ignorância nada mais é que uma expressão utilizada por nós para definir até onde sabemos de alguma coisa e até onde inventamos aquilo que não sabemos. Sabe quando você olha para o Stonehenge, por exemplo, e fica se perguntando COMO aqueles monólitos foram colocados ali? Então… aqui é o limite da ignorância: sabemos que os monólitos estão ali de pé, mas não sabemos como eles foram colocados ali. Para cientistas e pesquisadores, este é o momento de fazer perguntas. Para o ser humano comum, esse é o momento de inventar histórias, pois ficamos desconfortáveis com a ignorância, já que, como foi dito, precisamos controlar todos os aspectos de nossas vidas. Então dizemos que foram aliens, gigantes, seres com tecnologia anti-gravidade… qualquer coisa.

Aliás… dia desses eu passei por esta situação de forma tão clara que me deixou desconfortável… mas eu vou contar para vocês:

Eu estava conversando com uma amiga em uma reunião de amigos quando ela relatou uma experiência pela qual passou alguns dias antes. Ela disse que estava na varanda da casa dela quando avistou um ponto mais brilhante no céu do que as outras estrelas. Segundo ela, era uma luz azulada, que brilhava e chamava muito a atenção. Ela ficou olhando para aquilo esperando que se movesse, mas nada acontecia. Só que, com o passar do tempo, ela percebeu que a luz não estava mais onde estava, havia se movido mais para um lado, a despeito das outras estrelas. 

Ela disse isso para nós como quem quer relatar um OVNI, com olhos arregalados e impressionada com o fato.

E foi muito divertido ver como ela ficou decepcionada ao saber que aquilo era vênus. E eu tive que explicar todo o funcionamento do movimento celeste, pois ela não sabia que planetas, estrelas e todos os corpos celestes se movem no espaço. Em um ponto foi frustrante, porque a garota já era uma jovem adulta, por outro lado foi interessante, pois isso demonstrou muito de perto o porque das pessoas acharem que as pirâmides são impossíveis de ser construídas com o maquinário da época ou que a vela… é só uma vela e é usada hoje em ritos de magia basicamente porque a maioria do que sabemos hoje sobre qualquer coisa vem de pessoas que não tinham luz elétrica na época.

Agora, junte esse fato da gente inventar histórias quando estamos no limite da ignorância, com aquele desacoplamento cognitivo que falamos e teremos uma base bem sólida sobre as diversas explicações da Magia das Velas. Dizer que acender uma vela nos conecta a um orixá, por exemplo, e isso faz uma triangulação energética entre você, o intento e a divindade, ou que vc escreve o intento de baixo para cima para atrair e de cima pra baixo para expandir é de fato muito bonito, mas de fato, isso é real? 

E retornamos aquela velha pergunta que sempre digo para vocês fazerem e que norteou, inclusive, este roteiro: Como?

Como a vela tem algum tipo de importância para a divindade ou como a escrita na vela influenciaria alguma coisa com relação a atração e dispersão de energia?

Se a vela funciona para atrair ou expandir energia, o que acontece quando acendo uma vela só para perfumar minha casa ou porque acabou a luz? Uma divindade será atraída para minha casa neste momento e se não, o que diferencia um fato do outro?

UM FATO PELO OUTRO

Acho que você compreendeu onde quero chegar aqui. Existe uma única coisa que une todas as outras coisas que falamos aqui hoje e outras ainda mais: você.

Quando acendemos a vela para atrair uma entidade, o que está ali posto é você. Quando acendemos a vela e escrevemos de baixo para cima, ou untamos com azeite, o que está ali é você. O que diferencia a vela para entidade da vela para termos luz é você. Quando rezamos para deus ou incorporamos uma entidade, a única coisa que, de fato, se repete em todas essas situações é você o que nos faz pensar que, para qualquer coisa que fizermos, qualquer ato mágicko, a única coisa que influencia de fato em tudo… é você.

A pesquisa mágica do último século basicamente vai focar o tema exatamente neste ponto: em você e se perguntar até que ponto você pode ir fazer o que quiser. Não importa se existe um Aiwass; você vai fazer o que quiser e isso será o todo da lei. Não importa o quanto você vai distribuir amor desde que você o mantenha sob vontade. Não importa o rito que você fizer, desde que você saiba que é o deus do círculo. Trace os pentagramas nos quatro pontos cardeais, mas sinta que você está seguro ali. Evoque os daemons, mas quem comanda é você. 

Você é o ponto focal da Magia desde que descobrimos uma fração do que a mente é capaz de fazer. A mente trouxe a responsabilidade do Mago para dentro de si e isso foi, de todas as formas possíveis, libertador. 

Mas claro… como o ponto focal da Magia sempre é o Mago e o Mago é livre para fazer o que quiser, eu posso dizer a você que toda forma de interação que temos com a tal da vela, quaisquer desculpas inventadas por qualquer pessoa sempre será funcional, não por conta da desculpa em si, mas por sua causa. 

Isso basicamente quer dizer que sim; você pode fazer, por exemplo, um curso de magia com velas e praticar esse tipo de magia. E isso possivelmente funcionará, mesmo que você faça de forma diferente do que está escrito no livro, assim como o pessoal da goétia faz hoje em dia. E isso acontece exatamente porque não é na vela que está o poder.

O poder está no Mago.

Espero que vc tenha uma ótima vida, seja uma pessoa melhor do que foi até agora. Tchau.

Referencias usadas no texto:

Maria Helena Martins – A importância de acender velas e o significado das suas cores – 

https://lifestyle.sapo.pt/astral/praticas/artigos/a-importancia-de-acender-velas-e-o-significado-das-suas-cores

O QUE UMA VELA PODE SIGNIFICAR?

https://www.wemystic.com.br/velas/#:~:text=S%C3%ADmbolos%20de%20ilumina%C3%A7%C3%A3o%20e%20transforma%C3%A7%C3%A3o,alma%20e%20da%20vida%20espiritual.

Sérgio Olens – O Poder do Fogo e a Magia das Velas

Como as velas podem revelar sua magia através do fogo

https://www.terra.com.br/vida-e-estilo/horoscopo/o-poder-do-fogo-e-a-magia-das-velas,0508cf9709f31a7af8bdf08b9567e568fp2gdltk.html

Sobre Jesus Cristo

https://www.ebiografia.com/jesus_cristo/

Por que as pessoas acreditam em deus?

https://br.noticias.yahoo.com/por-que-pessoas-acreditam-em-deus-ciencia-quer-explicar-142732430.html?guccounter=1&guce_referrer=aHR0cHM6Ly93d3cuZ29vZ2xlLmNvbS8&guce_referrer_sig=AQAAALQwzQgxZph82JkRfn23V9Fr3LxPIcO5VKPHODN2CGyPuftEeeOAjc5KQdD3xo5UTylBHPl6qu1-KwtEB8ZSWovZzpXki76CT7cg3wsb4t1srqpXlkDL7267iLBkgkaU5bzIVwyHVvBxJsbe_Uvm9vPOl0yKKmkrXCt8NE6s8pLe

Stuart Vyse – Believing in Magic: The Psychology of Superstition

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *